'Gamification' e outros petiscos

Felipe A. Carriço
3 min readJun 20, 2020

Antes de começar o artigo, preciso fazer um breve disclaimer. Este é um texto meu de 2015, publicado originalmente aqui, mas que reflete muito do que eu continuo pensando sobre o assunto. Ao longo dos 5 anos seguintes, me especializei ainda mais em gamificação, game design, e me enveredei pelos caminhos da Experiência do Usuário (UX), onde aprendi outras sutilezas a respeito do tema, as quais nem sempre são expressadas pelos seus defensores (na verdade, nunca são). Se "gamificação de verdade" é um tema que lhe interessa e você gostaria de saber um pouquinho mais, me dê um alô nos comentários.

Estou elaborando mais conteúdos a este respeito e seu interesse será um imenso suporte!

De tempos em tempos, surge no mercado uma nova tendência; uma nova moda que faz com que os profissionais de diversas áreas de atuação remexam-se em suas cadeiras. Já vimos o inbound marketing, a transmídia, o buzz marketing, a guerrilha, o storytelling e dezenas de outras “buzzwords” em apresentações e discursos sobre o futuro dos negócios em marketing, publicidade e áreas correlatas.

Todo mundo quer surfar nas ondas das tendências e farfalhar orgulhosos as bandeiras do pioneirismo. Não que isto seja um problema, tampouco um erro. Contudo, assim como na ciência, muito deve ser estudado e experimentado antes que se divulgue uma nova droga milagrosa, capaz de salvar o mundo de seus males.

Melhor prevenir do que remediar

O uso de anticoncepcionais, por exemplo, tem pouco mais de 50 anos. Centenas de experimentos foram feitos desde então, mesmo assim vários cientistas ficam com a pulga atrás da orelha quando o assunto são os seus efeitos colaterais e o seu uso prolongado.

A verdade é que estudos e pesquisas devem ser constantes, a fim de que possamos concluir e, porque não, refutar quaisquer achismos anteriores.

Olhando por este prisma, por que temos tanta pressa em aplicar estas novas tendências sem ao menos estudarmos afundo suas aplicações, métricas e efeitos colaterais? Se não testarmos e estressarmos estas buzzwords antes de as implementarmos em nossos negócios, corremos um verdadeiro risco de “engravidarmos” de más ideias.

Senta. Deita. Rola.

A palavra da vez é o “ gamification”. Além de um prato cheio para quem gosta de estrangeirismos, é muito fácil supor que este assunto trata-se apenas de colocar jogos em todos os lugares, a fim de engajar essa nova geração, tão ávida por consumir tais mídias.

Mas será que é isso mesmo? Será que os novos gurus do marketing e da comunicação empresarial sabem mesmo do que estão falando? Dar pontos, brindes e medalhas é realmente o caminho para o sucesso?

Ivan Pavlov foi um fisiólogo russo que, ao longo de sua carreira, fez dezenas de estudos a respeito do comportamento animal, tendo recebido um prêmio Nobel por suas descobertas. Um dos seus estudos mais conhecidos foi realizado com cães, os quais recebiam guloseimas sempre que um sino soava. Aos poucos, Pavlov foi retirando a comida da equação, mas os cães permaneceram salivando sempre que escutavam a sineta.

Dizem as más línguas que talvez tenham sido os cães que ensinaram Pavlov a alimentá-los enquanto ele tocava seu sino. Uma teoria no mínimo interessante, mas que deixa a dúvida no ar e a certeza de que não podemos aceitar qualquer tendência como se fosse um petisco, pois pode ser que estejamos salivando pelas respostas erradas.

Se você quer saber mais sobre o curso e novos artigos sobre gamificação aos olhos de UX que estou preparando (spoiler alert!), me dê um alô nos comentários!

BÔNUS!

Palestra que ministrei em 2016, no evento de encerramento do curso de Reaprendizagem Criativa do Murilo Gun.

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